A recente visita do presidente turco Recep Tayyip Erdoğan a Washington, DC foi concebida como uma forma de melhorar sua imagem de tirano. Então por que ele orquestrou um ataque sangrento supostamente perpetrado por seus guarda-costas em manifestantes pacíficos fora da residência do embaixador turco?
Alguma perspectiva sobre Erdogan e sobre a história turca ajuda a colocá-lo no contexto: as embaixadas da Alemanha Nazista e da Rússia comunista nunca promoveram um ataque semelhante em solo norte-americano, durante as visitas de seus líderes. Assim como ditadores infames como Fidel Castro, Hugo Chávez e Leonid Brezhnev nunca promoveram tal explosão de agressão.
Mas o ataque que feriu 9 em Washington, se encaixa um padrão de comportamento turco recente.
Em janeiro de 2016, quando Erdogan visitou o Equador para um acordo comercial, seus seguranças atacaram manifestantes pró-curdos, e quebraram o nariz do deputado Diego Vintimilla. Em março de 2016, quando Erdogan visitou a Brookings Institution em Washington, seus seguranças atacaram violentamente manifestantes, jornalistas e até mesmo o próprio pessoal de segurança americano.
Por que Erdogan é tão abertamente agressivo em solo estrangeiro? Como isso se encaixa em sua agenda? Abaixo 7 motivações que explicam isso:
1) Um aliado insubstituível:
Erdoğan e seus capangas acreditam que a Turquia é insubstituível e indispensável para os EUA devido à localização da Turquia como aliado, devido à sua adesão à NATO e devido à base aérea de Incirlik. Autoridades turcas pensam que podem se comportar mal porque os americanos não têm escolha, pois precisam de sua ajuda.
Será que a impunidade do turco vai continuar, mesmo depois de um ataque em solo americano?
2) Anti-americanismo e a xenofobia:
os americanos tendem a ver a Turquia como um aliado e pensar bem dos turcos, mas o governo turco incentiva a visão hostil em relação aos americanos e ocidentais, de um modo geral. O governo do turco Erdogan diz repetidamente aos turcos que os ocidentais escondem uma programação maliciosa para dividir ou destruir Turquia . Erdogan acusa, constantemente, o Ocidente de odiar os muçulmanos: “Eles se parecem com amigos, mas eles querem nos ver mortos. Eles gostam de ver nossos filhos morrer. ”
3) O regime de Erdogan chama os ocidentais de kafirs ( “infiéis”) – um termo depreciativo islâmico, tanto é que Numan Kurtulmuş, o vice-primeiro ministro da Turquia, afirmou, no ano passado (2016), que “Independência significa ser capaz de levantar-se contra os kafirs, chamando-os kafirs. Eu explico o significado da palavra kafir: “Em nosso dicionário, kafir é o déspota, o opressor, aquele que persegue o nosso povo, é o imperialista “.
Esta campanha foi tão bem sucedida. que um jornal pró-Erdoğan, chamado Yeni Safak, publicou uma pesquisa mostrando que 94% dos turcos consideram a NATO como uma ameaça; 95% dizem que a base aérea de Incirlik deve ser fechada para os EUA e 96% considera a América um inimigo. Portanto, a incidente em Washington, foi um ataque ao inimigo em sua própria casa.
4) a superioridade cultural e moral:
De acordo com uma pesquisa de 2012, 67% cidadãos turcos entrevistados acreditam que “A nação turca é superior a todas as outras nações em todos os aspectos”.
Uma pesquisa realizada em 2014, mostrou que 71% dos turcos vê seu país como um modelo sem mácula para o. mundo.
Este sentimento de superioridade se traduz em desprezo por valores ocidentais como a tolerância, a diversidade e o pluralismo. E por isso mesmo se sentem no direito e dever de silenciar as vozes dissidentes através de detenção e até mesmo assassinato (o que têm sido a norma na Turquia).
5) Populismo na Turquia:
os turcos, pode-se ver pela maioria dos comentários no vídeo, que estes comemoraram o ataque.
A mídia financiada pelo governo de Erdogan, diz que: “Os turcos pró-governo tinham sido atacados por simpatizantes da organização terrorista PKK / PYD, que gritavam slogans anti-Turquia em uma manifestação não autorizada e que um turco foi ferido e hospitalizado, o que levou os guarda-costas de Erdogan a intervir. As forças do bem prevaleceram. Os defensores da organização terrorista, após a intervenção dos guarda-costas de Erdogan, fugiram.”
6) O ódio às minorias:
A República da Turquia, no último século, tem brutalizado gregos, cidadãos nativos assírios, yazidis, curdos e armênios, praticando assassinatos em massa, torturas, estupros, prisões ilegais e prisões de minorias, assim como a destruição de suas casas, vilas e cidades, uma prática comum dos governos turcos há mais de 1 século. Portanto, atacar os pacíficos manifestantes curdos, em Washington equivale a uma exportação desta cultura.
7) Impunidade para os crimes atuais e passados da Turquia: Erdoğan e seu grupo, o que eles fizeram em Washington, eles somente repetiram o que rotineiramente fazem na Turquia. A Turquia ainda não foi responsabilizada pelo genocídio armênio de 1915, nem pela invasão de Chipre em 1974, nem pelos inúmeros crimes cometidos contra os curdos, mesmo tendo exterminado 3 milhões de armênios, gregos e cristãos assírios no genocídio, entre 1914 e 1923. Portanto, frente a tal genocídio, o que aconteceu em Washington é insignificante.
E fica a pergunta: ” Será que a impunidade turca vai continuar, mesmo depois de um ataque em solo americano?”
John McCain sugeriu a expulsão do embaixador turco.
O republicano David Cicilline, membro da Comissão dos Assuntos Externos, está tentando bloquear a venda de de aviões de combate F-35 para a Turquia.
O quê a administração Trump fará, vai punir a Turquia ou vai deixar este incidente passar, incentivando, assim, Erdoğan a promover mais repressão?
Fonte: Lei islâmica em ação